quinta-feira, agosto 11, 2005

Desconforto

Pois é, dia sem trabalho remunerado. Dia inteiro em casa estudando, lendo e escutando música... O que algumas pessoas podem dizer de uma dia como esse é que tive um "dia livre", de folga. Em alguns momentos cheguei a concordar com essa tal "liberdade" desse meu dia - o que, confesso, me deixou bastante agoniando pois não queria "fazer nada" hoje, não hoje... Senti saudades de coisas e de pessoas... senti medo também... Comecei a angariar motivos para transformar esse "dia livre". Bom, dia inteiro em casa estudando, lendo e escutando música... dia de trabalh-pensando... Comecei a construir pensamentos sobre questões que me são atuais há muito. Comento, aqui, sobre uma delas: a palavra "vazão" tem me assediado e eu não sei o que fazer com isso. Às vezes fico extasiado com o desconforto gerado, sinto-me reconfortado... Paradoxo que sinto e que esbarra em mim, por todo o meu corpo... "Ah viver é tão desconfortável. Tudo aperta: o corpo exige, o espírito não pára, viver parece ter sono e não poder dormir - viver é incômodo. Não se pode andar nu nem de corpo nem de espírito" ("Água viva", de Clarice Lispector). Quisera eu me desnudar e conseguir me deixar vazar de maneira monstruosa para que o impedimento de tal vazão deixasse de ter razão e me deixasse evolar-gritar e me deixasse ser apenas ar...
Como conseguir isso com todo o aparato orgânico-moral/fisiológico-social que me constitui, que me privilegia e me impede? É, Artaud poderia conversar com a Clarice sobre o corpo-sem-órgãos (ia ser muito foda!).
Pois muito bem, o paradoxo continua e vai continuar e eu vou continuar me extasiando com ele por um bom tempo... Não sei se é maturidade, se é capacidade ou se é simplesmente coragem o que eu preciso para extrapolar esse êxtase - é isso mesmo, quero extrapolar o êxtase, quero achar a brecha para a vazão, quero achar a mini-rachadura na comporta para que ela não consiga conter a água (viva) e, com isso, fazer arrebentar... Em meio a tudo isso, vou tentando sambar do jeito que der...
Sinto-me agradecido pelo fato de as letras que me sobraram na palma da mão - pois a maioria das palavras escorreram por entre meus dedos no início, no momento em que eu queria fazer-lhes carinho - terem se submetido à minha ansiedade e terem se dado de presente. Em sinal de gratidão, coloquei-as na ordem que consegui (me) encontrar...
Bom, dia inteiro em casa estudando, lendo e escutando música... dia de trabalho dobrado.