segunda-feira, dezembro 25, 2006

A humanização do Divino e a divinização do Homem...


[...] Jesus morre, morre [...] de súbito o céu [...] se abre de par em par e Deus aparece [...] e sua voz ressoa por toda a terra, dizendo, Tu és meu Filho muito amado, em ti pus toda a minha complacência. Então Jesus compreendeu que viera trazido ao engano como se leva o cordeiro ao sacrifício [...] e, subindo-lhe à lembrança o rio de sangue e de sofrimento que do seu lado irá nascer e alargar toda a terra, chamou para o céu aberto onde Deus sorria, Homens, perdoai-lhe, porque ele não sabe o que fez. Depois foi morrendo no meio de um sonho (SARAMAGO, 2003, p. 444).

É engraçado como as coisas se cruzam, algum tempo atrás eu li “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” do Saramago... ,já era fã do cara desde que li “Ensaio Sobre a Cegueira”, e me deparei com essa tal humanização dos míticos personagens bíblicos como José, Maria, Jesus, Deus, Diabo e tal... simples e genial momentos como o ciúme-desconfiança-medo do casal José e Maria diante da concepção de Jesus, a “descoberta” por Jesus que Deus e o Diabo não são mais que heterônimos... na verdade como leitor do Neil Gaiman já tinha me deparado com algumas humanizações assustadoramente fantasiosas como a do próprio Sol (estrela, astro), e de coisas pretensamente “menores” como Gatos. Mesmo nosso amigo Frederico do Bigodão também brinca com essa humanização, tanto no seu superhomem, quanto ao proclamar a “morte” de Deus, não seria a morte apenas cabível ao que é carne, e mortal?

É impossível não ser levado a pensar sobre o outro lado dessa corrente. Fazendo uma pergunta hilária-tenebrosa pode-se ilustrar a Divinização do Homem:
“Vocês já pararam pra pensar no dia em que a Xuxa ou o Roberto Carlos morrerem?” vai ser 46 semanas seguidas de especiais e homenagens na Globo!!! E não são poucos os Deuses da mídia, pois é, é um largo panteão de Brad Pitts, Angelinas Jolies, Lady Dis, Madonnas, Michael Jacksons, George Bushs, Pittys, Chorões, Caetanos, Bentos 16, Mc Leozinhos... seres que habitam as páginas de Carass, Contigos, Vejas (em ordem de “desimportancia” política) e outras revistas que canonizam os superhomens do sistema capetalista. Criaturas adoradas, idolatradas (salve,salve) por todos nós. – Não diminuindo o papel de cada um como artistas, políticos, embaixadores do culto a bunda (e corpo), cada um tem público que merece (e vice-versa).

Não quero chegar a conclusão nenhuma, e nem tento... mas recomendo a leitura do Saramago, do Neil Gaiman, do tio Frederico... só faço uma ressalva: eles também são só macacos.

Ah... link bacana sobre o tema:
http://www.urutagua.uem.br/010/10moiana.htm

terça-feira, dezembro 12, 2006

Mestre George



Pegar a mosca as vezes é menos trabalhoso que entrar numa pós...

Parábens ao mais novo Mestre!!
George Pereira "McFly" Ramos
Tenho certeza que toda a labuta pra entrar no mestrado vai fazer muita diferença na sua formação.
abração com muito orgulho cara!!

segunda-feira, novembro 27, 2006

Todas as Opiniões


Todas as opiniões que há sobre a Natureza
Nunca fizeram crescer uma erva ou nascer uma flor.
Toda a sabedoria a respeito das cousas
Nunca foi cousa em que pudesse pegar como nas cousas;
Se a ciência quer ser verdadeira,
Que ciência mais verdadeira que a das cousas sem ciência?
Fecho os olhos e a terra dura sobre que me deito
Tem uma realidade tão real que até as minhas costas a sentem.
Não preciso de raciocínio onde tenho espáduas.

Poema de Alberto Caeiro
Pintura: "La méridienne ou La sieste", de Vincent van Gogh.

quinta-feira, novembro 09, 2006

VIDA

O baque da cadeira contra o chão esparramou as entranhas da barata. Seus órgãos indistinguíveis se misturavam às patas traseiras e pedaços de seu abdome. Ela se remexia num desespero silencioso.
Sua dor era gritante e muda.
Me surpreendi com o que tinha feito, me senti até culpado, por mais ridículo que possa parecer.
A barata ficou imóvel.
Me senti aliviado por sua morte, pelo fim de sua agonia.
Peguei um guardanapo e joguei sobre seu cadáver, por mais ridículo, ainda, que isso possa parecer.
Quando voltei meu olhar de novo ao chão, pouco depois, descobri que a tal criatura não estava nada morta. Sem metade do corpo a barata se virou e com as duas patas da frente e uma outra pata quebrada ela se afastava de sua metade morta. Ia de encontro ao tempo, dilacerada, rumo ao escuro, insistindo na vida.

-escrito em 30 de Agosto de 2005

domingo, outubro 29, 2006

Eleição


Galvão, do www.vidabesta.com

sexta-feira, outubro 27, 2006

aphorismos del lado oscuro (1.)


Aos de mente pequena resta a extrema dedicação
mas mesmo assim isso pode não ser suficiente.

imagem:Dragon - W. Blake

domingo, outubro 22, 2006

Old Downtown


Henri Lefebvre fala que não existe uma “sociedade urbana” que isso só poderia nascer de uma urbanização que é hoje virtual, e ainda porque a sociedade que vivemos não é outra senão advinda da industrialização-nossas relações sociais são na verdade relações de produção-.

Nasci na ladeira do São Bento, e mesmo quando minha família veio pra pop-plastificada-histérica Praia do Canto ainda ia muito passear no Centro. Adorava e adoro as lojinhas, os bares, as ruelas, a bagunça, os prédios modernistas retões, as praças, as igrejas, os teatros, as pessoas, os movimentos as misturas...
...é claro que o Centro não é mais que uma linha flexível onde se encontra um devir resistência ao fetichismo mercadológico, e não uma linha de fuga. Como não podia deixar de ser: o “Mercado” é que une as relações sociais.
Mas isso, esse devir, me faz amar esse lugar... essa realidade de pequenas-grandes coisas... dos segredos escondidos nas pedras portuguesas das ruas antigas e tortuosas... O porto e seus misteriosos navios gigantes...
Viva e viva o centro!

Lócus fotográfico: Chez Nandinha