A humanização do Divino e a divinização do Homem...
[...] Jesus morre, morre [...] de súbito o céu [...] se abre de par em par e Deus aparece [...] e sua voz ressoa por toda a terra, dizendo, Tu és meu Filho muito amado, em ti pus toda a minha complacência. Então Jesus compreendeu que viera trazido ao engano como se leva o cordeiro ao sacrifício [...] e, subindo-lhe à lembrança o rio de sangue e de sofrimento que do seu lado irá nascer e alargar toda a terra, chamou para o céu aberto onde Deus sorria, Homens, perdoai-lhe, porque ele não sabe o que fez. Depois foi morrendo no meio de um sonho (SARAMAGO, 2003, p. 444).
É engraçado como as coisas se cruzam, algum tempo atrás eu li “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” do Saramago... ,já era fã do cara desde que li “Ensaio Sobre a Cegueira”, e me deparei com essa tal humanização dos míticos personagens bíblicos como José, Maria, Jesus, Deus, Diabo e tal... simples e genial momentos como o ciúme-desconfiança-medo do casal José e Maria diante da concepção de Jesus, a “descoberta” por Jesus que Deus e o Diabo não são mais que heterônimos... na verdade como leitor do Neil Gaiman já tinha me deparado com algumas humanizações assustadoramente fantasiosas como a do próprio Sol (estrela, astro), e de coisas pretensamente “menores” como Gatos. Mesmo nosso amigo Frederico do Bigodão também brinca com essa humanização, tanto no seu superhomem, quanto ao proclamar a “morte” de Deus, não seria a morte apenas cabível ao que é carne, e mortal?
É impossível não ser levado a pensar sobre o outro lado dessa corrente. Fazendo uma pergunta hilária-tenebrosa pode-se ilustrar a Divinização do Homem:
“Vocês já pararam pra pensar no dia em que a Xuxa ou o Roberto Carlos morrerem?” vai ser 46 semanas seguidas de especiais e homenagens na Globo!!! E não são poucos os Deuses da mídia, pois é, é um largo panteão de Brad Pitts, Angelinas Jolies, Lady Dis, Madonnas, Michael Jacksons, George Bushs, Pittys, Chorões, Caetanos, Bentos 16, Mc Leozinhos... seres que habitam as páginas de Carass, Contigos, Vejas (em ordem de “desimportancia” política) e outras revistas que canonizam os superhomens do sistema capetalista. Criaturas adoradas, idolatradas (salve,salve) por todos nós. – Não diminuindo o papel de cada um como artistas, políticos, embaixadores do culto a bunda (e corpo), cada um tem público que merece (e vice-versa).
Não quero chegar a conclusão nenhuma, e nem tento... mas recomendo a leitura do Saramago, do Neil Gaiman, do tio Frederico... só faço uma ressalva: eles também são só macacos.
Ah... link bacana sobre o tema:
http://www.urutagua.uem.br/010/10moiana.htm