quarta-feira, março 29, 2006

Toque...

Num salão de beleza, a profissional tinha pudores que não condiziam com o seu trabalho: "Gosto muito de cortar cabelo de mulher, mas de homem é mais difícil". A dificuldade ficou estampada no reflexo do espelho; a testa da moça parecia indicar um cuidado, o evento exigia uma atenção. A tesoura passeava tímida. O corte se construía não tão facilmente para ela - ele, atento, percebeu.... O toque da tesoura no cabelo de seu freguês era o máximo que ela conseguia executar. Mas o que estava faltando? Havia um toque que não acontecia... De tão gritante a situação, parecia ser daqueles toques entre amantes.
O incômodo de não saber qual era o toque que não cessava de não acontecer seduzia. Não era só a moça a ficar tensa; tenso era também o olhar do freguês, agora investigando mais detidamente. O momento propício para que se acontecesse surgiu, mas o toque esbravejou ao não ser dado... Tanto foi que entreolharam-se, os dois, pelo espelho. O rosto dela pediu permissão quase se desviando. O sublime toque se presentificava pela sua não-ocorrência:
A orelha era o motivo do receio daquela cabelereira: talvez esse toque fosse muita intimidade para um primeiro corte....

4 Comments:

Blogger Sérgio Prucoli said...

Parece que os toques tem sido uma constante em seus posts, meu caro. Que bom! Tocar é necessário, não? Tocar o desejo, pois o pensamento não toca... só incita... tocar e desejar, desejar e tocar...
bons encontros e muitos toque amigo!

10:44 PM  
Anonymous Anônimo said...

Meu rapaz, corte, algo tão delicado, de fato há os mais profundos ou aqueles superciciais. Mas, o mais notável é que sempre é algo entrando e penetrando em algo. Dessa maneira podemos pensar em um certo erotismo em todo corte...

12:55 PM  
Blogger Sérgio Prucoli said...

George... que forçada de barra hein?! Vc tá muito doido!
hehhehehh...

12:33 PM  
Anonymous Anônimo said...

Risos.

Não me cortando as orelhas, meu cabelo está a disposição de quem corta.

E adorei o Matisse.

1:23 AM  

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