Toque...
Num salão de beleza, a profissional tinha pudores que não condiziam com o seu trabalho: "Gosto muito de cortar cabelo de mulher, mas de homem é mais difícil". A dificuldade ficou estampada no reflexo do espelho; a testa da moça parecia indicar um cuidado, o evento exigia uma atenção. A tesoura passeava tímida. O corte se construía não tão facilmente para ela - ele, atento, percebeu.... O toque da tesoura no cabelo de seu freguês era o máximo que ela conseguia executar. Mas o que estava faltando? Havia um toque que não acontecia... De tão gritante a situação, parecia ser daqueles toques entre amantes.
O incômodo de não saber qual era o toque que não cessava de não acontecer seduzia. Não era só a moça a ficar tensa; tenso era também o olhar do freguês, agora investigando mais detidamente. O momento propício para que se acontecesse surgiu, mas o toque esbravejou ao não ser dado... Tanto foi que entreolharam-se, os dois, pelo espelho. O rosto dela pediu permissão quase se desviando. O sublime toque se presentificava pela sua não-ocorrência:
A orelha era o motivo do receio daquela cabelereira: talvez esse toque fosse muita intimidade para um primeiro corte....
4 Comments:
Parece que os toques tem sido uma constante em seus posts, meu caro. Que bom! Tocar é necessário, não? Tocar o desejo, pois o pensamento não toca... só incita... tocar e desejar, desejar e tocar...
bons encontros e muitos toque amigo!
Meu rapaz, corte, algo tão delicado, de fato há os mais profundos ou aqueles superciciais. Mas, o mais notável é que sempre é algo entrando e penetrando em algo. Dessa maneira podemos pensar em um certo erotismo em todo corte...
George... que forçada de barra hein?! Vc tá muito doido!
hehhehehh...
Risos.
Não me cortando as orelhas, meu cabelo está a disposição de quem corta.
E adorei o Matisse.
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