sexta-feira, março 10, 2006

Preso na Existência















...”este corpo de lama que tu vê
é apenas a imagem que sou”...


Um trecho de um poema de Manoel de Barros me tirou da rotina:

“Vi uma lesma pregada mais na existência que na pedra.” – O Fotógrafo

Bem, verdade é que destas palavras me perdi em alguns questionamentos e em algumas idéias.
Caí numa pergunta muito clichê e digna de risos: “quem diabos sou eu?” – como disse antes, reafirmo, clichê e ridícula – mas continuando... e completando o trabalho sináptico, a resposta que procuro não é Sérgio, 26 anos, arquiteto, solteiro, leonino, neurótico obsessivo, etc e tal não é a que procuro. Existe algo ainda mais incrustado do que um nome, uma idade, uma profissão. Não sei bem o quê... e me poupem da resposta “alma”... além de muito brega, alma não é a resposta, e talvez seja até o problema em si.
Algum tempo atrás vi um filme japonês antigo, em PB, da década de 60 –pleno toyotismo rolando- que tratava da história de samurais no Japão pós-feudal, onde os dogmas desta classe de guerreiros entrava em colapso com a nova realidade política e econômica que ali se estabelecia. Ética e percepção são os temas principais deste filme (cujo nome prometo procurar e publicar aqui pra quem interessar possa). “Antes de ser um samurai, sou um homem” - brada o protagonista em determinado momento, eis o “Ó” do borogodó.
Existe algo que ainda vai além do gênero, masculino/feminino. Alguém ai já se apaixonou tão perdidamente a ponto de ir além da diferença(ou não)/atração dos sexos e amar algo indefinido? Amar o gesto, a expressão do corpo, o modo de pensar... estar feliz ao lado de alguém não pela parte biológica – e cuja importância não diminuo – mas por sentir que preso na existência se está acompanhado.
Não pretendo reduzir o pensamento a uma questão de relacionamento com Outro, e nem se deve. Continuo no Eu, que não se encontra no Outro , apesar do que diz a letra de Paquetá do “Amar”ante: “Mas ei, só me acho em ti”.
Sou o que então? O que é pregado na existência? E, o que nos prega na existência? – Seria a falta de sentido da vida, nos levando a um Nada onde só há o simples existir?
Não sei as respostas e duvido que algum dia saiba. Vou, então, mais uma vez, usar o samba, me armo de música e assim me despeço.

O Mistério do Samba
Mundo Livre S/A

O samba não é carioca/O samba não é baiano/O samba não é do terreiro/O samba não é africano/O samba não é da colina/O samba não é do salão/O samba não é da avenida/O samba não é carnaval/O samba não é da tv/O samba não é do quintal
Como reza toda tradição
É tudo uma grande invenção...
O samba não é emergente/O samba não é da escola/O samba não é fantasia/O samba não é racional/O samba não é da cerveja/O samba não é da mulata/O samba não é playboy/O samba não é liberal
Como reza toda tradição
É tudo uma grande invenção...
Não tem mistério
Não é do bicheiro/Não é do malandro/Não é canarinho/Não e verde e rosa/Não é aquarela/Não é bossa nova/Não é silicone/Não é malhação/O samba não é do Gugu/O samba não é Faustão/Não é do Gugu/Não é do Faustão
Sem mistério...
Ps: estou com medo de começar “o Ser e o Nada”

1 Comments:

Blogger Bruno said...

Quanta verdade suporta um espírito, meu caro?
Saudades.

9:36 PM  

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