sexta-feira, outubro 28, 2005

O Freude, nicht diese Töne!


Qual o motivo para reproduzir um trecho do poema "Hino à Alegria", de Friedrich Schiller? Bom, tive conhecimento dele escutando a 9ª Sinfonia de Ludwig van Beethoven há um tempo. Tive a oportunidade de fazer um trabalho na faculdade sobre esse músico e descobri que ele levou 17 anos para musicar o poema e torná-lo canto em uma sinfonia. O resultado? Auscultem.
Há tdo um contexto sócio-histórico-estético-político por trás da confecção do poema e da música que vale a pena ser conhecido, mas não o vou discutir aqui. Chamo a atenção para o 1° verso do poema, que é título desse post - e o reproduzo com os dois versos seguintes: "O Freude, nicht diese Töne! / Sondern last uns angenehmere / anstimmen und freudenvollere!". Tradução: "Oh, amigos, não queremos mais essas músicas! / Cantemos músicas mais alegres, / mais cheias de júbilo!".
Qual o motivo para reproduzir esse trecho? Talvez, dando uma olhada à nossa volta, devamos responder com mais perguntas: "Onde está o júbilio, do qual muitos insistem estar impregnados, mas que nunca aparece em suas criações?", "Há quanto tempo você não escuta uma música realmente diferente?", "A alegria-de-Vital, as dicas-de-jornal, a felicidade-de-ciência: há diferença entre elas?".
Assim como, nesse blog, samba não é necessariamente a música-samba, música também pode ser outra coisa...

sábado, outubro 22, 2005

Sobre o Fugir

(continuando sobre o texto do George)

“...Mas agora não da mais
Só nos resta sacudir em paz
Só nos resta querer viver bem mais
O que me importa é que você agora possa estar... aqui
Salve a vida, salve o amor..."

Vale lembrar, meus caros amigos, que não é só “balançando” que se foge da realidade, que não é só no Vital que se esquece das merdas do mundo.
Nessas horas deve se tomar cuidado pro micro-fascismo continuar micro. Olha lá o preconceito... olha o rótulo...
São muitos, apesar do sentimento de solidão (ou seria de egoísmo?), os que conseguem perceber o mundo de maneira não tão alienada. E que se enterram em livros e criam embates intelectuais dantescos mas que no fim das contas, morrem esmagados pelo peso da poeira acumulada da falta de movimento.
Não é porque existe abada e nana banana que o mundo continua de mal a pior.
Acho que o problema, como disse o Bruno-Chico, é o excesso de estática!

ps: embora, devo admitir, que adoraria ver o Vital sair de Camburi e ir parar lá em Jagatah, ou em katmandu, ou na Konchichina, ou em...

sexta-feira, outubro 21, 2005

Se conselho fosse bom...

Espero poder contribuir com algo que meu amigo George postou. Vários são os motivos para celebrar a vida, não é, meu caro?

Aí vai mais um, com a ajuda do Chico... Sem mais resignações....

"Bom conselho" (1972)

Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança
Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar
Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio o vento
Na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade

segunda-feira, outubro 03, 2005

Sem início ou O mesmo e a febre

... e é por isso que sentiu cansaço, por isso sentiu sono, por isso quis dormir e por isso não conseguiu pregar os olhos. No dia seguinte, tinha saído do cansativo dia de trabalho - onde, por mais que se tentasse fazer diferente, falava-se sempre a mesma coisa - com raiva de ter escutado todas as palavras que haviam lhe dito: eram todas iguais. Não importa com que letras, não importa com quantas letras, não importa qual a posição das letras: as palavras eram todas iguais. Sentiu nojo delas, principalmente porque tentavam ser bonitas - o nojo aumentou. Andou até o ponto de ônibus de cabeça baixa, mas a levantava quando reparava nisso. A cabeça insistia em cair. Seu corpo estava quente e disposto (o cansaço pesado que sentia era o das palavras repetidas - o outro cansaço era normal). Entrou no ônibus e viu pessoas bonitas, bonitas mesmo, como aquelas que precisam aparecer no campo de visão depois do expediente para reativar o ato de respirar. Sorriu e até pensou que poderia conseguir um carinho daquela beleza encontrada no ônibus. Sentou e sentiu que a cabeça já firmava sozinha. E sentia o corpo quente. Estranhou o estado febril e pensou que o trabalho estava lhe causando doença: não era só o fato de as pessoas repetirem as palavras - mesmo que diferentes - que irritava, mas o fato de o movimento da boca ser sempre o mesmo, de o gesto que acompanhava a boca e o som da palavra ser sempre o mesmo, de os ouvintes fazerem sempre a mesma expressão. Sabia o nome da sua doença: repetição crônica. O problema era que quem repetia eram os outros. Estava com febre, sem nenhum mal-estar e sabia o nome da doença que tinha sido causada pela repetição dos outros. Será que seu corpo repetia as sensações? Se assim fosse, realmente estaria doente, estaria repetindo. O ônibus avançava e as coisas que sabia que iriam se repetir não se repetiram. A febre estava já causando delírios? Chegou em casa e teve certeza de que o delírio havia passado: lá, as pessoas continuavam a repetir. Quis cortar as orelhas para não escutar, como, segundo Artaud, talvez Van Gogh o tenha feito, e quis arrancar os próprios olhos também - não queria deixar de ver, mas deixar de ver aquilo. Tomou banho e a água estava mais fria que de costume: estava febril. Fechou os oulhos e se sentiu como que pendurado numa corda. Não conseguia encostar o pé no chão pormais que o esticasse. Deixou-se ficar ali, na corda, quando percebeu que estava gostando de sentir que fazia força no braço para se manter naquela posição torta - estava gostando de ficar torto. (Pelo menos isso era diferente - normalmente, as pessoas querem a postura correta.) A febre estava ajudando pois já queria dormir. Secou-se e olhou para o espelho: a febre queria irromper de vez e o elírio mostrava que a corda começava a abraçar seu corpo. Conseguiu o carinho, portanto, mas sentiu uma certa sufocação. Prestou atenção no seus rosto e percebeu uma lágrima: a febre era vida, que não cansava e insistia: não queria mais repetir. Comeu alguma coisa e foi para a cama, que estava de braços abertos. Ficou pensando na febre e no mesmo e é por isso que sentiu cansaço, por isso sentiu sono, por isso quis dormir e por isso não conseguiu pregar os olhos.