segunda-feira, setembro 12, 2005

Paz

Eu e um amigo estamos fazendo um trabalho que tem me chamado bastante a atenção. Não entrarei em detalhes sobre o que estamos fazendo especificamente, mas paz é um tema que está ligado a essa nossa tarefa. Bom, sempre procuro utilizar o dicionário para propor uma discussão nesse ambiente de trabalho de que falo, isso porque partir de uma palavra parece dificultar um pouco as coisas e com um entendimento supostamente simplificado (eu sei, e por isso muitas vezes complicado) que tal consulta proporciona a discussão pode ter um início interessante. Se eu perguntar qual o significado da palavra paz, a maioria pode responder de acordo com sua visão religiosa, santa, moral, e pseudosocial... Bom, o que você acha que é paz?
Lá vai o dicionário Aurélio: paz sf. 1. Ausência de lutas, violências ou perturbações sociais, ou de conflitos entre pessoas. 2. Restabelecimento de relações amigáveis entre países beligerantes. 3. Sossego, serenidade. (contribuição de um outro dicionário de que não recordo o nome: paz = silêncio).
O que pensar disso? Tudo bem, já direcionando a discussão - coisa que me segurei para não fazer, mas... -, disponho para leitura mais um termo, também do Aurelinho: mortificar v.t. 1. Diminuir ou extinguir a vitalidade de (alguma parte do corpo). 2. Torturar (o corpo) com penitências. 3. Desgostar ou afligir muito. 4. Castigar o próprio corpo com penitência; martirizar-se. § mortificação sf.
E aí? Conseguiu pensar alguma coisa? Vamos facilitar um pouco: pegue as primeiras definições de cada termo e o "martirizar-se" do segundo.
Confuso? Muito rápido? Que bom... Afinal, nosso samba, aqui, é a total ausência de silêncio, de lutas - o que se quer é aumentar a vitalidade. Temos pensado a paz como mortificação... E se pensarmos numa outra (?): a do sambalutar, do sambasambar, do sambaviver, pois "silence means death"...

quinta-feira, setembro 01, 2005

VIDA

O baque da cadeira contra o chão esparramou as entranhas da barata. Seus órgãos indistinguíveis se misturavam às patas traseiras e pedaços de seu abdome. Ela se remexia num desespero silencioso. Sua dor era gritante e muda.
Me surpreendi com o que tinha feito, me senti até culpado, por mais ridículo que possa parecer.
A barata ficou imóvel.
Me senti aliviado por sua morte, pelo fim de sua agonia.
Peguei um guardanapo e joguei sobre seu cadáver, por mais ridículo, ainda, que isso possa parecer.
Quando voltei meu olhar de novo ao chão, pouco depois, descobri que a tal criatura não estava nada morta. Sem metade do corpo a barata se virou e com as duas patas da frente e uma outra pata quebrada ela se afastava de sua metade morta. Ia de encontro ao tempo, dilacerada, rumo ao escuro, insistindo na vida.