domingo, julho 30, 2006

1 ano de samba

hum ano de samba
valeu rapaziada!!
é um prazer brincar com vcs... estar com vcs... escrever com vcs!!
(rs)

lembro do domingo no oficina da fome, brunão e eu. lanches e sonhos.
saudade e felicidade do que foi e é.

há um ano vcs imaginavam onde estão hoje?
onde estaremos daqui a mais um ano?

a importância das coisas não ditas. (1)

não dizer é uma arte quase perdida.
tornada arma de desconforto e medo, ainda maior na modernidade espetaculosa*... não por pouco, afinal o silêncio é pintado como morte.
mas
não dizer tem um peso que pode ser infinitamente maior que o dito,
mas não dizer é, acredito, mais complicado que dizer... assim como se fala e não diz nada, não falar e dizer é algo muito mais complicado. uma arte que vai se perdendo.

-assim como a arquitetura não é apenas o construído, mas o vazio que se encerra,
ou não-

a construção de um momento em silêncio é quase sempre poético, um caldo imaterial de sentimento e sinceridade(?) que é expurgado do não dito. algo realmente difícil de se sair ileso... o problema da falta de silêncio seria o medo de não se manter invulnerável? mas essa invulnerabilidade não seria uma característica da morte? talvez até maior que o silêncio... e ainda: a futilidade do que se diz não é o verdadeiro e mais venenoso dos silêncios?

-se enche de uma verborragia fecal os espaços do silêncio... há o medo do que se pode dizer com o vazio de som, indubitavelmente-

.
.
.


aos que não se amedrontam, deixo a provocação de se construir um pouco de silêncio no dia-a-dia.


* a modernidade me parece uma centena de milhares de buzinas e alto falantes, gritando, se contorcendo e distorcendo em invisíveis, infatigáveis e infindáveis ondas sonoras - uma competição (não só mas também) sonora-. O tempo antes disso me traz sempre a imagem de uma equalização mais harmônica entre som e não-som.

sexta-feira, julho 28, 2006

Segue o teu destino

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.

(Fernando Pessoa, em "Odes de Ricardo Reis")
(Figura de Victor Brecheret)

terça-feira, julho 18, 2006

sobre a beleza de uma amizade
se sorri
mesmo q... ...longe
o desejo de um novo encontro
e ver que ser se faz novo
de novo
outra vez
a saidera que nunca chega
mas chega
pra de novo
e outra vez
nova vez
amizade, tamos ai!

ps: para Ludwig, vai... mas fica.

sábado, julho 08, 2006

Sabe,


Corpo calado que se encontra odalac oproc. Estado de perfeita nulidade que abre a porta para a noite passar, simplesmente passar... Passou... Que atrevimento - o do corpo, que nem se moveu. Atreveu-se com o que não devia, com o deixar-passar... Sabe, anda-se na ponta dos pés na avenida dos sentimentos. Há um medo de pisar em cacos de vidro nessa atitude, o que comprova tal nulidade e o fato de continuar calado o corpo. Medo que impede o corpo de ir, de se espalhar, que trava a embriaguez, fruto de uma sede..... e a sede é de experimentar o desejo no que ele mais amedronta: no seu mandamento 'perca-se de si mesmo'...
PS.: Sempre gostei dessa moça da foto, mas, depois de tê-la visto em tal charme e beleza, só fiz uma coisa: me apaixonei. Para quem ainda não reconheceu, apresento-lhes a moça Clarice Lispector.

sábado, julho 01, 2006

Olho seco

Domingo vi você piscando. É, vi você piscando no domingo. Você piscando no domingo. Às vezes piscava muito. Não sei o motivo por que piscava tanto às vezes, mas é verdade, você piscava muito. Aquilo que você me disse, lembra?, aquilo que você me disse no domingo piscando: pensei que fosse mentira – claro, você piscava como alguém que contava uma baita mentira. Isso tudo foi no domingo. Tudo. Você piscava como se gostasse de brincar de deixar o olho seco, só para irritar. Olho seco se irrita e aí você se força a piscar. Foi por isso que te vi piscando no domingo. Você estava brincando. Mais um motivo para eu acreditar que era mentira. E você mente, hein? Sei que está mentindo para mim. Como? Você estava brincando no domingo – brincando e piscando. É por isso que eu sei. Brincando, piscando, mentindo e tentando. Entender o quê? Já expliquei demais e estou dando assunto para você continuar com isso, não acha? Que a gente consegue? Deixa de piscar. Vai virar cacoete. Aí você não vai conseguir mais enxergar embaçado. Às vezes a gente precisa disso, não é? Do embaçado. A gente precisa não enxergar um pouco. Querer piscar tira o embaçado da vista. Vê como piscar – essa brincadeira sua – é mentir? Para mim, é endireitar demais as coisas. Às vezes as coisas precisam ser vistas embaçadas. Piscar endireita, aí você mente para mim – como fez no domingo.