segunda-feira, novembro 28, 2005
sexta-feira, novembro 25, 2005
Artaud e Van Gogh
Bom, ótimos acontecimentos por vir: atividades que não darão trabalho pelo simles fato de eu as desejar intensamente.
Aconteceu de serem vistas cenas nesses últimos dias sobre as quais poderia escrever um post, mas ainda estou digerindo e saboreando... Contudo, figuras de Van Gogh recém adquiridas me remeteram à peça de Artaud que uns amigos e eu começaremos a traduzir em breve.
Por que os dois no título? Para lembrar o quanto somos alheios a certas intensidades...
Van Gogh: o suicidado pela sociedade (trechos de Artaud)
Pode-se falar da saúde mental de van Gogh, que em toda sua vida assou uma das mãos e, faor disso, limitou-se a cortar a orelha esquerda numa ocasião, num mundono qual diretamente comem vagina assada com molho verde ou sexo de recém-nascido flagelado e triturado, assim que sai do sexo materno.
E isso não é uma imagem, mas sim um fato abundante e cotidianamente repetido e praticado por todo mundo.
(...) E o que é um autêntico louco?
É um homem que preferiu ficar louco, no sentido socialmente aceito, em vez de trair uma determinada idéia superior de honra humana.
Assim, a sociedade mandou estrangular nos seus manicômios todos aqueles dos quais queria desembaraçar-se ou defender-se porque se recusavam a ser seus cúmplices em algumas imensas sujeiras.
Pois o louco é o homem que a sociedade não quer ouvir e que é impedido de enunciar certas verdades intoleráveis.
(...) Diante dessa sordidez unânime que de um lado se baseia no sexo e de outro na misso e outros ritos psíquicos, não há delírio em passear à noite com um chapéu coroado por doze velas para pintar uma paisagem natural; pois como faria o pobre van Gogh para iluminar-se (...). Quanto à mão assada, trata-se de heroísmo puro e simples; quanto à orelha cortada, pura lógica direta, e repito, um mundo que, cada vez mais, noite e dia, come o incomível para fazer sua maléfica vontade alcançar seus objetivos não tem outra alternativa nessa questão a não ser calar a boca.
(...) E aconteceu com van Gogh como poderia ter acontecido com qualquer um de nós, por meio de uma bacanal, de uma missa, de uma absolvição ou qualquer outro rito de consagração, possessão, sucubação ou incubação. Assim a sociedade inoculou-se no seu corpo, esta sociedade absolvida, consagrada, santificada e possuída, apagou nele a consciência sobre natural que acabar de adquirir e, como uma inundação de corvos negros nas fibras da sua árvore interna, submergiu-o num último vagalhão e, tomando seu lugar, o matou.
Pois está na lógica anatômica do homem moderno nunca ter podido viver, nunca ter podido pensar, a não ser como possuído.
(...) Sem querer fazer literatura, é verdade que vi o rosto de van Gogh, vermelho de sangue na explosão das suas paisagens, vir a mim,
kohan
taver
tensur
purtan
num incêndio,
num bombardeio,
numa explosão
para vingar a pedra de moinho que o pobre van Gogh, o louco, teve que carregar durante toda a sua vida. O fardo de pintar sem saber por quê e para quê.
Pois não é para este mundo, nunca é para esta terra onde todos, desde sempre, trabalhamos, lutamos, uivando de horror, de fome, miséria, ódio, escândalo e nojo e onde fomos todos envenenados, embora com tudo isso tenhamos sido enfeitiçados e finalmente nos suicidamos como se não fôssemos todos, como o pobre van Gogh, suicidado pela socieadade!
Obs.: adaptado para não ocupar muito espaço.